Foto: José Cruz/Agência Brasil
O que falta para o país se destacar na mineração do fertilizante e acabar com a dependência externa é o maior investimento no setor, segundo o Serviço Geológico do Brasil – CPRM. O diretor de Infraestrutura Geocientífica, Paulo Afonso Romano, e o diretor-presidente do Serviço Geológico do Brasil, Esteves Colnago, contam que na década de 1970 o Brasil importava 30% dos alimentos consumidos. “Hoje é o segundo maior exportador, em alguns casos o primeiro”, destaca Paulo. “Tudo por conta da aquisição de tecnologia e investimento ao longo dessas décadas. O mesmo pode ser feito com a mineração, mas isso não se faz da noite para o dia.”
Luis Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), também ressalta que o Brasil poderia investir na mineração o mesmo empenho que fez o país ser uma potência na exportação de alimentos. “Há 40 anos a gente só conhecia o sul do Brasil como área agricultável, as terras roxas. O cerrado era terra inóspita para isso. Amazônia era inóspita. O que a gente fez na agricultura a gente está deixando de fazer na mineração”.
Esteves Colnago explica que o trabalho do CPRM é identificar os pontos onde os minerais estratégicos estão, mas, a partir desse ponto, é preciso uma pesquisa intensa e cara, que depende de uma verba que o Brasil não tem, o que leva à necessidade de uma maior participação da iniciativa privada.
“Exploração mineral a gente não implanta, a gente vai atrás. Nós primeiro temos de identificar a ocorrência. O Serviço Geológico identifica as ocorrências minerais, locais. E aí tem um papel importante que é desempenhado pela iniciativa privada, que nós do governo não fazemos, que é a pesquisa, o aprofundamento do conhecimento daquela ocorrência. E existe carência de recursos para isso. O custo para essas pesquisas é elevadíssimo. Nós não temos tradição no país de ter agentes financiadores desses empreendimentos, e outros países o tem”, conta o diretor-presidente do CPRM.
Esteves acrescenta que, justamente por esse motivo, as empresas que operam no Brasil são de outros países, como Canadá e Austrália, ou recebem financiamento desses países, que já chegam com know-how e dinheiro necessários para o trabalho. A Potássio do Brasil, que deve fazer a exploração na Amazônia, é brasileira, mas com a captação de recursos do Canadá.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), os fertilizantes são considerados “commodities” nos mercados internacionais. No entanto, não são produtos com pouca tecnologia agregada. Os insumos utilizados na sua produção exigem um grau de sofisticação industrial relativamente alto e são, sobretudo, intensivos em capital e escala – como os petroquímicos (enxofre, ureia, amônia); ou o potássio e o fósforo – que dependem de infraestrutura mineradora.
Plano Nacional de Fertilizantes
Em março, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). A estratégia é reduzir a dependência do Brasil das importações de fertilizantes, mas o documento não surgiu diante da crise instalada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, já que começou a ser elaborado em 2021 (agora formalizado pelo Decreto 10.991).
O objetivo do PNF é criar um planejamento do setor de fertilizantes para os próximos 28 anos, promovendo o desenvolvimento do agronegócio nacional, com foco nos principais elos da cadeia: indústria tradicional, produtores rurais, cadeias emergentes, novas tecnologias, uso de insumos minerais, inovação e sustentabilidade ambiental.
O plano deve trazer equilíbrio entre a produção nacional e a importação, ao atender à crescente demanda por produtos e tecnologias de fertilizantes. O objetivo é chegar a 2050 com a dependência de apenas 45% de importação de fertilizantes.
Segundo a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, não se trata de o país alcançar a autossuficiência, mas, sim, uma menor dependência externa dos fertilizantes. “Não estamos buscando a autossuficiência, mas sim, a capacidade de superar desafios e manter nossa maior riqueza, o agronegócio, pujante e competitivo, que faz a segurança alimentar do brasil e do mundo. Nossa demanda por nutrientes para as plantas é proporcional à grandeza de nossa agricultura. Mas teremos nossa dependência externa bastante reduzida”, disse a ministra no Palácio do Planalto, no dia do lançamento.
Paulo Afonso Romano explica que o Serviço Geológico do Brasil, a Agência Nacional de Mineração e a Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo já estavam de olho na questão muito antes de a crise dos fertilizantes, e que já há ciência de que a mineração do potássio é uma questão de extrema importância à economia brasileira.
“O Plano Nacional de Fertilizantes, que ajudamos diretamente na concepção, nasceu não em função de nenhuma dessas crises, nasceu em função da vulnerabilidade e da visão estratégica de governo de que não podemos ser líderes na exportação de alimentos e tão dependentes de importação de fertilizantes. Por esta razão, esse plano nasceu na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Nós estamos trabalhando nele há um ano”, conta o diretor da CPRM.
O PNF tem, ao todo, 80 metas a serem atingidas até 2050, entre elas estimular o uso de técnicas inovadoras. Além disso, apresenta oportunidades em relação a produtos emergentes que podem substituir o potássio, como os remineralizadores, ou pó de rocha, como explica Paulo Afonso. “Hoje o conceito está muito mais amplo. Temos os fertilizantes naturais, de rocha moída, conhecido como pó de rocha, são muito mais preparadores da condição de solo para melhorar a utilização de todos os elementos disponíveis no solo. É uma abordagem diferente. Chamamos de remineralizador de solo, que é uma cadeira emergente no Brasil. Estamos falando de crise e abordagem estratégicas para dar início a novas alternativas”, pontua o diretor do CPRM.
Além disso, o PNF aponta para soluções em outras alternativas, como os fertilizantes organominerais e orgânicos (adubos orgânicos enriquecidos com minerais) e os subprodutos com potencial de uso agrícola, os bioinsumos e biomoléculas. Eles fazem parte de um plano B, já que a intensificação da mineração do potássio nas jazidas brasileiras conhecidas demanda alguns anos de preparação e investimento. Na melhor das hipóteses, se não houver nenhum embaraço e a exploração de potássio na Amazônia começar em breve, teremos resultados apenas a partir de 2025. E o trabalho por lá, segundo o CPRM, começou por volta de 2009.
Fonte: Brasil 61