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Garimpo amplia conflitos entre comunidades yanomami

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A invasão do garimpo ilegal às terras no oeste de Roraima gerou não apenas problemas ambientais, sanitários e confrontos diretos entre garimpeiros e indígenas, mas também amplificou conflitos entre as próprias comunidades yanomami. Questões como a cooptação de jovens indígenas pela atividade de extração do ouro, a disseminação de bebidas alcoólicas e a proliferação de armas de fogo foram responsáveis pelo aumento da violência intertribal.

“Os invasores contribuíram muito para crescerem mais os conflitos yanomami. Os garimpeiros levaram muitas armas de fogo para as comunidades. Ano passado, tivemos um problema muito grande em Xitei, onde adolescentes de 12, 13 e 14 anos beberam e mataram uns aos outros, com [revólver calibre] 38. Está muito tenso porque os garimpeiros armaram muito os yanomami”, diz Júnior Hekurari Yanomami, que preside Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY).

Segundo Júnior, entre as regiões onde a violência intertribal aumentou depois da chegada dos garimpeiros estão Tirei, Xitei e Homoxi. De acordo com ele, alguns dos invasores dão armas para os yanomami, inclusive, para que os indígenas façam a proteção ao garimpo contra comunidades que são contra a atividade de mineração do ouro.

Missionário

O padre italiano Corrado Dalmonego viveu 14 anos entre os yanomami da região do Rio Catrimani. Fluente na língua yanomami, a mais falada entre os povos originários do oeste de Roraima, o padre integra o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade vinculada à Igreja Católica que lida com questões indígenas.

Boa Vista (RR), 12/02/2023, O missionário do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, padre Corrado Dalmonego, fala sobre a questão dos indígenas yanomami..
Missionário do Conselho Indigenista Missionário, padre Corrado Dalmonego viveu 14 anos entre os yanomami. – Rovena Rosa/Agência Brasil

Também mestre em antropologia e cursando um doutorado na área, padre Corrado diz que o acesso dos yanomami a armas de fogo leva os conflitos a outro patamar.

“Existem comunidades com relação de aliança e outras com relações mais ou menos conflitivas, mas os conflitos entre as comunidades yanomami muitas vezes são resolvidos de forma não violenta. Diálogos tentam restabelecer conciliações. As ‘vinganças’ são muito limitadas, focadas para certas pessoas, que eles chamam de ‘unokai’, que eles traduzem para o português como criminoso, assassino. Então, muitas vezes os conflitos se resolvem em ações pontuais”, diz o padre.

“Se antes os ataques eram realizados com flechas disparadas de longe – e disparar uma flecha já demonstrava a coragem de uma pessoa –, com as armas de fogo e as munições que o garimpo oferece, isso provoca um aumento exponencial da violência”, enfatiza.

Choque de gerações

Padre Corrado também chama a atenção para os conflitos dentro da própria aldeia, que são exacerbados pela presença do garimpo nessas terras. “O aliciamento que o garimpo traz, sobretudo, aos jovens, que se deixam aliciar mais facilmente ao garimpo, provoca conflitos internos nas comunidades, entre lideranças e jovens. E isso reverbera também em conflitos intercomunitários, entre comunidades [yanomami] diferentes que já vivem tensões”.

Tony Gino Rodrigues, pertencente à etnia macuxi, também nativa da região de Roraima, trabalhou 12 anos como agente de saúde nas terras yanomami. Para ele, as riquezas do garimpo atraem a atenção dos mais jovens, que querem, por exemplo, ter acesso a novas tecnologias como os aparelhos celulares (que eles vêem nas mãos de garimpeiros, mas também nas mãos daqueles que estão ali para ajudar, como profissionais de saúde).

Boa Vista (RR), 13/02/2023, A liderança indígena do povo macuxi, Tony Gino Rodrigues, fala sobre a questão dos indígenas yanomamis.
Liderança indígena do povo macuxi, Tony Gino Rodrigues, fala sobre a questão dos indígenas yanomami. – Rovena Rosa/Agência Brasil

“Isso desperta o interesse de qualquer ser humano. A nova geração está interessada em obter aqueles bens que estão chegando. E qual é o processo mais fácil para conseguir um telefone? Pelo garimpo. E isso também vale para outros tipos de alimentação que eles vieram experimentando ao longo da vida, como o arroz, o sal, o açúcar, o café. Tudo isso, eu só posso adquirir com dinheiro. E, se eu não tenho um emprego, não consigo adquirir.”

Aparente riqueza

Segundo o padre Corrado, o garimpo traz apenas uma “aparente riqueza”, que pode atrair alguns dos indígenas, já que eles recebem pagamento em ouro para prestar serviços aos garimpeiros, como carregar combustível pelos caminhos da floresta. No entanto, acabam gastando o ouro, com bebidas e prostituição, tudo a preço superinflacionado, nas ‘currutelas’, como se chamam os vilarejos construídos pelos garimpeiros perto dos locais de extração do minério.

A bebida alcoólica, consumida nas ‘currutelas’, por exemplo, acirra conflitos e tensões que são subjacentes, já que pode ser o estopim para novas brigas, com agressões e assassinatos.

“Você tem a contaminação do mercúrio, o desmatamento, a falta de alimentação em grande escala, porque as caças vão para mais distante. Hoje, a quantidade de garimpeiros dentro da floresta era quase a mesma quantidade de yanomami. Você quase dobra a quantidade de caça. Quando chega o garimpo, você deixa de cultivar, deixa de caçar, ou seja, você deixa o modo de vida tradicional para partir para uma vida que foi levada lá para dentro e que ninguém explicou como se comportar dentro desse meio”, explica Tony Rodrigues.

Júnior Yanomami vê um futuro difícil pela frente, mas tem esperança de remediar os estragos provocados pelo garimpo nas terras de seu povo. “É preocupante, e a gente vai ter muito trabalho para consertar esses conflitos que aconteceram [principalmente] nos últimos quatro anos, mas a gente vai consertar”, afirma Júnior.

Por Agência Brasil

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Prefeituras partilham quase R$ 7,8 bilhões do FPM nesta sexta-feira (10)

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As prefeituras partilham quase R$ 7,8 bilhões referentes à primeira parcela de maio do Fundo de Participação dos Municípios, nesta sexta-feira (10). É o segundo aumento consecutivo do FPM, que também registrou alta no último repasse de abril. 

No primeiro repasse de maio de 2023, os municípios receberam cerca de R$ 7,3 bilhões. Se considerada a inflação de 3,9% nos últimos 12 meses, a transferência desta sexta-feira é 2,4% maior do que a do ano passado. 

Cesar Lima, especialista em orçamento público, diz que o resultado positivo afasta o temor de que os repasses entrariam em uma tendência de queda, após duas quedas consecutivas no mês de abril. 

“Os resultados do FPM desse primeiro decêndio de maio parecem ser bem promissores, mostrando que aqueles resultados anteriores foram pontos fora da curva. Tivemos alguns resultados bem baixos nos decêndios passados, mas agora parece estar refletindo essas notícias de recorde de arrecadação que o governo tem conseguido nos últimos meses”, avalia. 

Para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) serão repassados quase R$ 2 bilhões na sexta-feira (10). 

Localizado no oeste de Minas Gerais, Iguatama tem menos de sete mil habitantes, de acordo com o IBGE. O prefeito do município, Lucas Vieira Lopes, destaca que a cidade tem baixa capacidade de arrecadação própria e que, por isso, as transferências oriundas da União e do estado são fundamentais para manter as contas em dia. 

“Esses repasses governamentais são uma das principais fontes de receita dos municípios pequenos. É de fundamental importância para nós”, afirma. O gestor comemora o crescimento do repasse desta sexta. “A arrecadação própria é muito baixa. Se as receitas governamentais caírem também, com certeza vai afetar em muito as nossas políticas públicas. Por isso, é importante que esse repasse continue estável”, completa. 

Rombo de quase R$ 15 bi nas contas municipais será desafio para prefeitos eleitos em outubro, alertam especialistas

61% dos municípios brasileiros apresentaram aumento no número de empregos em março; aponta CNM

Prefeituras bloqueadas

Até a última quarta-feira (8), 13 municípios estavam impedidos de receber o FPM, de acordo com o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), 

Verifique se a sua cidade está na lista. 

  • Murici (ES)
  • Itajá (GO)
  • São Domingos (GO)
  • Poços de Caldas (MG)
  • Antônio João (MS)
  • Miranda (MS)
  • Nova Alvorada do Sul (MS)
  • Alto Taquari (MT)
  • Canarana (MT)
  • Dom Aquino (MT)
  • Rio Branco (MT)
  • São José do Povo (MT)
  • Carapebus (RJ)

A ausência de pagamento para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep); dívidas com o INSS; débitos ativos com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN); e a não prestação de contas no Sistema de Informações sobre Orçamento Público em Saúde (Siops) estão entre os principais motivos para que uma prefeitura seja impedida de receber o FPM. 

Para desbloquear o repasse, o gestor público deve identificar o órgão que determinou o congelamento. Em seguida, deve conhecer o motivo e regularizar a situação. Vale lembrar que a prefeitura não perde os recursos bloqueados de forma definitiva. Eles ficam apenas congelados enquanto as pendências não são regularizadas.  
 

Fonte: Brasil 61

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Saneamento Básico: Brasil tem apenas 42,5% dos municípios cadastrados no sistema de drenagem de águas pluviais

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Considerado o quarto componente do saneamento básico, o serviço de drenagem e manejo de águas pluviais (DMAPU) recebe pouca atenção, segundo especialista do Ipea

Enquanto o governo e o poder público no Brasil investem em serviços voltados para a coleta de esgoto e o abastecimento de água, pouco se discute, contudo, sobre a importância das atividades de drenagem e manejo de águas pluviais (DMAPU). Atualmente, apenas 42,5% dos municípios brasileiros são cadastrados no sistema de atuação do DMAPU, conforme último levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) – coleta 2023 (ano de referência 202) do Ministério das Cidades.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Gesmar Rosa dos Santos explica que poucas pessoas sabem, mas a atividade é fundamental para o equilíbrio dos serviços de saneamento básico. Segundo ele, a água pluvial quando é direcionada para a rede de esgoto. Em dias de chuva, por exemplo, pode provocar o transbordamento desse esgoto para dentro de casa ou para os rios sem tratamento prévio.

“Se não tem drenagem inunda — e a inundação facilita carregar doenças transmitidas por urina de rato, por animais peçonhentos, por vírus, por bactérias. Então quando não se tem uma drenagem adequada e desenvolvimento urbano adequado, o cenário geral é essa dificuldade — um somatório de problemas”, analisa.

Ele lembra que o saneamento básico é composto por quatro componentes: coleta e destinação com tratamento de resíduos sólidos, coleta e tratamento de esgoto e abastecimento de água tratada, além da drenagem e manejo de águas pluviais. 

Mais preocupação com o setor

Dados do SNIS revelam que 16,8% dos municípios possuem uma plano diretor de DMA-PU. E 26,3% usufruem de um sistema combinado de drenagem com esgotamento sanitário.

Quando a rede de drenagem é utilizada como rede de esgotamento sanitário, os rios, lagos e reservatórios naturais acabam sendo poluídos. Na opinião do pesquisador, isso acontece porque o sistema de drenagem não dispõe de mecanismo de controle da qualidade da água ,que é lançada por receber menos atenção do poder público.

“A água pluvial, como ela não tem ainda uma reutilização, um valor econômico em uso, ela não tem uma tarifa associada — então ela é meio que deixada mais de lado. As pessoas não veem diretamente o benefício e passam a não cobrar. E ela depende do bom planejamento urbano, de fazer de fato as galerias de drenagem e ter uma destinação correta. E isso é muito oneroso, demanda muito dinheiro que não está sendo colocado no orçamento público”, reclama.

SANEAMENTO BÁSICO: Em um ano, tratamento de esgoto cresce apenas 1% no Brasil

SANEAMENTO BÁSICO: Brasil tem apenas 9 capitais com, pelo menos, 99% de abastecimento total de água

Marco legal do saneamento básico

O Marco Legal do Saneamento Básico (Lei 14.026/2020) estabelece que até 2033, 99% da população deverá ser atendida com serviços de água tratada e ao menos 90% do esgotos deverão ser coletados e tratados. Mas, para que isso aconteça, a presidente executiva do Trata Brasil acredita que o governo, a sociedade, todos têm um papel fundamental a cumprir.  Para ela, o Brasil precisa avançar ainda mais se quiser atingir as metas de universalização dos serviços até 2033.

“Se o tema é priorizado, existe um compromisso com essa agenda, um plano estruturado de saneamento básico, que tenha a previsão correta de quais obras precisam ser realizadas, qual é o volume de recursos necessário — uma análise em relação à qual é a melhor forma de modelo de gestão para que esses investimentos aconteçam”, avalia. 
 

Fonte: Brasil 61

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Pedidos de isenção da taxa do Enem podem ser feitos até sexta-feira

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Solicitações devem ser feitas pela Página do Participante

Por Agência Brasil

Termina na próxima sexta-feira (26) o prazo para pedir a isenção de pagamento da taxa de inscrição para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os pedidos devem ser feitos pela Página do Participante, com o login único do Gov.br.

Têm direito a fazer o Enem de graça os alunos matriculados no 3º ano  do ensino médio em 2024, em escola pública, e quem fez todo o ensino médio em escola pública ou como bolsista integral em escola privada. Também podem ser beneficiados participantes do programa Pé-de-Meia, do Ministério da Educação, e alunos de famílias de baixa renda – com registro no Cadastro Único para programas sociais do governo federal (CadÚnico).

O estudante que teve isenção no Enem 2023, mas não compareceu aos dois dias do exame, e quer participar da edição de 2024 gratuitamente precisa justificar a ausência. O prazo para a justificativa também encerra em 26 de abril.

O Enem é a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do Programa Universidade para Todos (Prouni). Os resultados do Exame são utilizados como critério único ou complementar dos processos seletivos, além de servirem de parâmetro para acesso a auxílios governamentais, como o proporcionado pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

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