A vacinação contra a Covid-19 chegou para os povos tradicionais quilombolas da região de Penedo, em Alagoas. A região é formada pelos municípios de Penedo, Porto Real do Colégio, Piaçabuçu e Igreja Nova, que juntos concentram quase 10 mil pessoas autodeclaradas descendentes e remanescentes de escravizados, segundo o Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE).
De acordo com esses dados, o estado possui mais de 54 mil quilombolas, acima dos 18 anos. Até o fechamento desta reportagem, apenas 2.124 pessoas tomaram a primeira dose da vacina. O início da vacinação de quilombolas em Alagoas foi marcado por dificuldades, uma vez que lideranças cobravam do governo estadual um calendário específico para a população – que é público prioritário, segundo o Ministério da Saúde.
A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, explica a importância da vacina nos grupos prioritários. “As comunidades quilombolas são populações que vivem em situação de vulnerabilidade social. Elas têm um modo de vida coletivo, os territórios habitacionais podem ser de difícil acesso e muitas vezes existe a necessidade de percorrer longas distâncias para acessar os cuidados de saúde. Com isso, essa população se torna mais vulnerável à doença, podendo evoluir para complicações e óbito”, afirmou.
Para resolver a situação na região, foi preciso que o Ministério Público Federal (MPF) enviasse ofício à Secretaria de Saúde de Alagoas solicitando um cronograma de forma a implementar, imediatamente, a vacinação para povos e comunidades tradicionais quilombolas e ribeirinhas, de acordo com o previsto no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. A partir disso, a vacinação dessa população começou a ser realizada no estado, mas ainda a passos lentos.
Número de quilombolas vacinados com as duas doses na região de Penedo:
Penedo: 1.262
Porto Real do Colégio: 4
Piaçabuçu: 0
Igreja Nova: 858
Das cidades que compõem a microrregião, uma das que concentra a maior parte dessa população é o município de Penedo, que conta com mais de seis mil quilombolas e está com a vacinação mais adianta. Jamila Grabriela Santos Peixoto é diretora de Vigilância Epidemiológica e Promoção à Saúde do município de Penedo (AL) e, de acordo com ela, duas estratégias estão ajudando a tornar a vacinação mais eficaz: manter a aplicação das vacinadas contra a Covid-19 em um local de fácil acesso para qualquer pessoa e disponibilizar transporte público para as comunidades quilombolas, desta forma, toda essa população tem possibilidade ser imunizada de forma rápida e fácil.
“Nós criamos uma central de vacinação, que fica localizada em um ponto estratégico, em uma escola. Nós também disponibilizamos ônibus para aquelas comunidades mais distantes para que possam comparecer à vacinação. E aqueles que não podem sair de casa, que estão acamados ou têm dificuldade de locomoção e não podem comparecer à central de vacinação, a gente vai até a casa e aplica a vacina, tanto a primeira quanto a segunda dose”, explicou a diretora.
Há mais de 45 dias que a vacinação das comunidades quilombolas está sendo realizada, de acordo com os dados da Secretaria de Saúde de Penedo. Ao todo, foram recebidas mais de 1.400 doses da vacina contra a Covid-19 especificamente para esse público-alvo.
José Cícero da Silva é uma das lideranças quilombolas da região e atesta que o trabalho de vacinação contra a Covid-19 tem sido realizado de forma ágil na proteção de toda a comunidade. Segundo ele, um dos pontos mais positivos da estratégia elaborada pela área da saúde local, foi procurar as lideranças quilombolas para “conversar com a população, conferir a quantidade de pessoas que precisam da vacina e os números das comunidades”, destacou.
Proteja-se
Se você sentir febre, cansaço, dor de cabeça ou perda de olfato e paladar procure atendimento médico. A recomendação do Ministério da Saúde é que a procura por ajuda médica deve ser feita imediatamente ao apresentar os sintomas, mesmo que de forma leve. Após a vacinação, continue seguindo os protocolos de segurança: use máscara de pano, lave as mãos com frequência com água e sabão ou álcool 70%; mantenha os ambientes limpos e ventiladores e evite aglomerações.
Os quilombolas são prioridades no calendário nacional de imunização do Ministério da Saúde. Apesar disso, José Cícero afirma que algumas pessoas ainda não se convenceram da importância de receber as doses da vacina para evitar a Covid-19. Muitos quilombolas ainda têm receio de efeitos colaterais e não aceitaram ir ao centro de vacinação. Por isso, o líder quilombola faz um apela às pessoas que ainda estão em dúvida e não foram protegidas contra essa doença.
“A única arma que temos para vencer esse vírus é a vacina. Então eu aconselho a todos vocês, encarecidamente, que cada um procure o posto de saúde, procure um agente de saúde, a Secretaria de Saúde ou qualquer pessoa da área da saúde para se proteger. Proteja sua família, proteja sua comunidade! Isso é muito importante para salvar vidas”, conclamou José Cícero.
Vacinação em Alagoas
De acordo com o Ministério da Saúde, foram entregues ao estado 1.762.380 doses da vacina contra a Covid-19. Segundo dados da pasta, até o dia 23 de junho, 12.175 quilombolas tomaram a primeira dose do imunizante. A vacina é segura e uma das principais formas de prevenir o novo coronavírus. Fique atento ao calendário de imunização do seu município. Para saber mais sobre a campanha de vacinação em todo o país, acesse gov.br/saúde.
Serviço
Quilombolas que vivem em comunidades quilombolas, que ainda não tomaram a vacina, devem procurar a unidade básica de saúde do seu município. Para mais informações, basta acessar os canais online disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acesse o portal gov.br/saúde ou baixe o aplicativo Coronavírus. Pelo site ou app, é possível falar com um profissional de saúde e tirar todas as dúvidas sobre a pandemia.
Por Brasil 61